Quando surgiu o anúncio do filme da Barbie dirigido por Greta Gerwig em 2020
Em 2020, foi divulgado que Greta Gerwig, conhecida por dirigir os filmes "Lady Bird" (2017) e "Adoráveis Mulheres" (2019), também seria a diretora e uma das roteiristas de um filme sobre as bonecas Barbie. Os fãs da diretora imaginaram que o filme traria críticas ao consumismo e à preocupação com o corpo, inspiradas pelas bonecas. No entanto, "Barbie" surpreendeu ao abordar predominantemente o mau comportamento dos homens perante as mulheres, especialmente o personagem Ken, interpretado por Ryan Gosling.
Ken é inicialmente apresentado como um cara legal, mas quando Barbie, vivida por Margot Robbie, recusa ter um relacionamento amoroso com ele por não saber o que isso significa, Ken elabora uma vingança maligna. Ele se muda para a Casa dos Sonhos da Barbie, renomeia o lugar para "Mojo Dojo Casa House" e conspira com outros Kens para subjugar todas as Barbies, tornando-as bobas e subservientes.
O filme também aborda a intenção de Ken em reformar a constituição da Barbielândia para que ele e seus colegas detenham todo o poder. Além disso, Ken força Barbie a ouvi-lo tocar a música "Push", da banda Matchbox Twenty, em sua guitarra acústica por quatro horas seguidas. "Barbie" se destaca por apresentar uma paródia precisa do frágil ego masculino.
O ano do "boy lixo" no cinema
Ao longo de 2023, tornou-se evidente que cineastas de todo o mundo estavam interessados em repudiar homens arrogantes, predadores e mesquinhos em seus filmes. O chamado "boy lixo" foi abordado em diversas produções, como "Cat Person", "Inferno", "Summer of Friendship" e "The Favourite".
"Cat Person", dirigido por Susanna Fogel, é uma adaptação do conto viral de Kristen Roupenian publicado na revista americana The New Yorker. O filme retrata uma estudante que flerta com um homem mais velho, interpretado por Nicholas Braun, e descobre que ele não tem o charme que demonstra em suas mensagens de texto. Quando ela o rejeita, ele passa a enviar mensagens abusivas.
"Inferno", escrito e dirigido por Chloe Domont, narra a história de um casal que trabalha na mesma companhia de investimentos em Wall Street. Quando a mulher é promovida, o homem se torna ciumento e controlador. Já "Summer of Friendship", da diretora Kitty Green, conta a história de duas mochileiras americanas que conseguem emprego como garçonetes em um bar na Austrália, onde enfrentam abusos misóginos.
Esses filmes representam uma mudança em relação à abordagem do #MeToo no cinema, com uma compreensão mais sutil e realista da toxicidade masculina e uma ênfase na responsabilidade de cada indivíduo em refletir sobre seu próprio comportamento.
A sutileza na representação masculina
Os filmes contemporâneos optaram por uma abordagem mais sutil na representação dos homens. Personagens como Ken em "Barbie" são apresentados como patéticos em vez de ameaçadores. A maioria dos homens de "Cat Person", "Inferno" e "Summer of Friendship" também são retratados como mais ridículos do que perigosos.
Essa contenção na representação dos agressores reflete a intenção dos cineastas em mostrar que o comportamento abusivo e coercitivo não é exclusivo de homens brutais facilmente identificáveis. Na realidade, é um problema comum e muitas vezes passa despercebido tanto por homens quanto por mulheres.
Os filmes também mostram personagens femininas se comportando de forma irresponsável, destacando os pressupostos e convenções de uma sociedade dominada pelos homens que contribuem para decisões prejudiciais. O patriarcado é apresentado como o verdadeiro vilão, um sistema que encoraja comportamentos tóxicos e impede o progresso das mulheres.
As obras cinematográficas recentes refletem uma maturidade e sutileza que não existia nas produções anteriores, onde as mulheres eram frequentemente retratadas como psicopatas assassinas em conflito com homens dominantes. A abordagem atual nos leva a uma reflexão sobre a responsabilidade coletiva de combater o patriarcado e promover relações saudáveis e igualitárias entre homens e mulheres.
Portanto, os filmes de 2023 que exploraram a toxicidade masculina mostram uma nova perspectiva sobre o tema, com a intenção de promover a conscientização e a mudança de comportamento, ao invés de simplesmente apontar dedos e ostracizar os homens.
Embora seja improvável que muitas pessoas abandonem facilmente o sistema patriarcal, essas produções podem encorajar uma análise pessoal e uma maior conscientização sobre os comportamentos prejudiciais que muitas vezes são tolerados e reproduzidos.
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