Presidente da Venezuela propõe criação de província em território disputado
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, propôs à Assembleia Nacional do país nesta terça-feira (5) a criação de leis para criar uma província venezuelana em Essequibo, uma área que hoje é da Guiana, mas que é disputada pelos dois países. Além disso, ele também ordenou que a estatal petroleira venezuelana PDVSA conceda licenças para a exploração de petróleo e gás na região.
A proposta de criação de uma província
Maduro entregou ao presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodriguez, uma proposta de lei para criar o estado da "Guiana Esequiba" (nome que os venezuelanos dão ao território) e "executar as decisões tomadas pelo povo no referendo consultivo". No domingo (3), a Venezuela fez um referendo no qual 95% dos eleitores presentes votaram para que o país incorpore Essequibo ao mapa venezuelano.
Entre as medidas que Maduro propôs estão:
- O início do debate na Assembleia Nacional e a aprovação da Lei Orgânica para a defesa da Guiana Esequiba.
- A criação de um setor da empresa estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) para Essequibo e a concessão de licenças para a prospecção de gás, petróleo e mineração.
- Um plano de assistência social à população da Guiana Esequiba, a realização de censo e entrega de carteira de identidade aos habitantes.
- A criação de um Alto Comissariado para a Defesa da Guiana Esequiba, órgão integrado pelo Conselho de Defesa, pelo Conselho do Governo Federal, pelo Conselho de Segurança Nacional e pelos setores político, religioso e acadêmico.
- A criação de uma Zona de Defesa Integral da Guiana Esequiba.
- Enquanto se discute a lei, Rodriguez Cabello será a autoridade da Guiana Esequiba, e também de forma provisória durante a discussão legislativa, a sede administrativa dessa autoridade ficará na cidade de Tumeremo, no território da Venezuela.
- A publicação e divulgação do novo Mapa da Venezuela em escolas, escolas secundárias e universidades do país.
A disputa pelo território de Essequibo
O território de Essequibo é disputado pela Venezuela e Guiana há mais de um século. Desde o fim do século 19, está sob controle da Guiana. A região representa 70% do atual território da Guiana e lá moram 125 mil pessoas.
Na Venezuela, a área é chamada de Guiana Essequiba. É um local de mata densa e, em 2015, foi descoberto petróleo na região. Estima-se que na Guiana existam reservas de 11 bilhões de barris, sendo que a parte mais significativa é "offshore", ou seja, no mar, perto de Essequibo. Por causa do petróleo, a Guiana é o país sul-americano que mais cresce nos últimos anos.
Tanto a Guiana quanto a Venezuela afirmam ter direito sobre o território com base em documentos internacionais. A Guiana afirma que é a proprietária do território porque existe um laudo de 1899, feito em Paris, no qual foram estabelecidas as fronteiras atuais. Já a Venezuela afirma que o território é dela porque assim consta em um acordo firmado em 1966 com o próprio Reino Unido, antes da independência de Guiana, no qual o laudo arbitral foi anulado e se estabeleceram bases para uma solução negociada.
O referendo venezuelano
No domingo (3), a Venezuela organizou um referendo no qual 95% dos eleitores presentes votaram para que o país incorpore ao mapa venezuelano o território de Essequibo, uma região de fronteira entre os dois países que é disputada há mais de 100 anos.
A consulta teve cinco perguntas:
- Você rejeita a fronteira atual?
- Você apoia o Acordo de Genebra de 1966?
- Você concorda com a posição da Venezuela de não reconhecer a jurisdição da Corte Internacional de Justiça (veja mais sobre essa questão abaixo)?
- Você discorda de a Guiana usar uma região marítima sobre a qual não há limites estabelecidos?
- Você concorda com a criação do estado Guiana Essequiba e com a criação de um plano de atenção à população desse território que inclua a concessão de cidadania venezuelana, incorporando esse estado ao mapa do território venezuelano?
A intervenção da Corte Internacional de Justiça
A Guiana pediu ajuda à Corte Internacional de Justiça para resolver a disputa territorial. Recentemente, a corte decidiu que a Venezuela não poderá anexar Essequibo, e que essa decisão também vale para o resultado do referendo. Em abril, a corte afirmou que tem legitimidade para tomar decisões sobre a disputa, mas a decisão final sobre quem é o dono de Essequibo ainda pode demorar anos.
O governo venezuelano considera a decisão da corte como uma interferência em uma questão interna e que fere a Constituição. No entanto, a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodriguez, afirmou que "nada vai impedir que o referendo agendado para o dia 3 de dezembro aconteça". Ela também deixou claro que a Venezuela não reconhece a jurisdição da Corte Internacional de Justiça sobre a disputa.
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